sexta-feira, 26 de julho de 2013

Com as cartas

Quando eu deixei de escrever cartas, passei a encontrá-las em sonhos. Passaram-se então a ser sonhos-carta os sonhos meus. Neles, eu entregava envelopes abertos com palavras incompletas às pessoas. Eu só podia entregar essas correspondências às pessoas que tinham o endereço gravado no olhar, que eu só conseguia ver se olhasse bem dentro do olho de suas existências. Essa era uma das minhas principais ferramentas de trabalho. Encontrei a maioria dos meus destinatários em meio ao acaso. As correspondências eram compostas por palavras incompletas que só tinham alguma coisa de nome, quase nada, e carregavam um desejo de significado. O encontro entre as tais quase palavras e seus destinatários era único e inevitável. O encontro existia antes de estar entre os dois. E eu seguia, entregando para cada destinatário a sua carta, que era escolhida pela cor daquele encontro. Depois de entregue, aquela quase palavra saía voando do envelope e pousava na imaginação de quem a recebia, misturava-se aos sentidos, dançando entre as frestas do corpo, adentrando um processo de significância viva, movimentos 'almados' num processo de 'almar-se'. Dali não queria acordar. Viver carteiro nos sonhos-carta era um ofício que escapava do nome trabalho, era bom, era grande, mas a despedida era fatal depois da troca. Eu deixava a carta e seguia com o endereço-olhar deles gravado em mim. Naquela gente moravam palavras de entregas e trocas passadas, com significados vividos por elas e com elas. Aqueles endereços na bolinha do olho eram dados a receber novas correspondências, eram de quem olhava e via. Sorri sabendo que nos encontraríamos novamente.

domingo, 22 de julho de 2012

Rabiola pousa lembrança

Os meninos corriam os olhos pelo céu em busca das pipas.
Era um dia típico de feriado, daqueles em que o tempo se faz presente sem chamar a atenção.

Observei por muito tempo aquela paisagem que, juntando-se aos ecos de minha memória, deixaram-me a vontade, na certeza de um dia realmente lindo.

Hoje, logo pela manha, ao abrir a casa, vejo que um pedaço daquele momento veio pousar em minha janela, trazendo à tona a lembrança carinhosa do que ficou.

Ela voa fazendo do vento seu salva-vidas e do céu, para além da janela, seu antigo guardião. Movimenta-se em direções diferentes, quase como quem vai ao encontro daquilo que lhe deixa saudade.

No céu, voam-se outras vidas.

Um pouco mais perto da janela, os pássaros cantam e me encantam.

A cidade tem outros sons e os meninos, outras pipas para buscar mundo a fora.

terça-feira, 5 de junho de 2012

A forma não quista


Tarde de segunda, numa semana que termina na quarta. Expectativa. Trabalhando sozinha, realizando uma função que pouco dialoga com o mim que me é. Olho pela janela, o sol está se pondo. Penso no mundo, no mundo que sei e imagino. Imagino como seria estar à beira mar, numa montanha, ou em qualquer lugar em que o pôr do sol pudesse ser visto. Quero vê-lo. Quero um pouco de luz nesses olhos tão penetrados pela claridade do computador.
Mas é só isso o que consigo ver.

Mira Lopes

segunda-feira, 5 de março de 2012

domingo, 15 de janeiro de 2012

Céu de meus dias dentro do escritório



Incrível quando o que deveria ser trabalho
começa a dar prazer.

Jean Carlos



E quando algo desaparece na relva de meus pensamentos
Me perco nas cores infinitas, quentes e frias
Enquanto um Mundo morre e nasce no esquecimento
Percebo que chegará o fim de mais um belo dia!

Bruna Sampaio